A bolsa estourou!

Diferente do que aparece nos filmes e novelas, é possível que a sua bolsa rompa e você não entre imediatamente em trabalho de parto. Quando isso acontece, chamamos de ruptura prematura das membranas amnióticas, que é quando a ruptura das membranas amnióticas acontece antes do início do trabalho de parto. Nesse post, falaremos sobre as possíveis repercussões e condutas a serem adotadas nessa situação em gestações a termo (com mais de 37 semanas). Vale ressaltar que se a bolsa romper com um bebê ainda prematuro as condutas serão diferentes.

  • O que é a bolsa das águas?

Quando dentro do útero, o bebê fica dentro de uma bolsa que chamamos de membrana amniótica. Essa bolsa contém o líquido amniótico que, a partir da 20ª semana da gestação, é formado principalmente pela diurese fetal (o xixi do bebê). A membrana amniótica tem função de proteção contra infecções, pois funciona como uma barreira. O líquido amniótico é importante durante a gestação protegendo o bebê contra traumas, evitando que ocorra compressão do cordão umbilical, mantendo a temperatura adequada dentro do útero e permitindo o desenvolvimento adequado dos órgãos do bebê.

  • Como saber se minha bolsa estourou?

Normalmente, quando a bolsa rompe, há saída de grande quantidade de líquido pela vaginal, formando poças no chão. Pode ocorrer também da rotura ser pequena, com perda de menor quantidade de líquido. Assim, caso você ache que isso possa ter acontecido, deve procurar avaliação obstétrica, pois no exame físico pode ser feito o diagnóstico correto. Durante essa avaliação, o toque vaginal deve ser evitado, pois aumenta o risco de infecção, e deve ser feito apenas caso a paciente esteja em trabalho de parto. A avaliação deve ser feita preferencialmente com o exame especular, para visualizar o colo do útero, se há perda de líquido, dilatação ou prolapso do cordão umbilical.

  • Se a bolsa realmente estourou, o que fazer a partir de agora?

Como quase tudo em obstetrícia, existe mais de uma conduta possível a ser tomada. O objetivo aqui é que você entenda as repercussões da ruptura das membranas amnióticas para que, junto com seu médico, defina a melhor forma de conduzir sua gestação a partir de então.

A principal consequência da ruptura prematura das membranas amnióticas em gestações com mais de 37 semanas é a infecção intra-uterina. Como perdemos a camada de proteção, tanto a mãe quanto o bebê ficam mais sujeitos a processos infecciosos. Quanto maior o tempo entre a ruptura da bolsa e o nascimento, maior o risco de infecção. Por isso, a maioria das diretrizes recomenda que o parto seja induzido assim que diagnosticada. Porém, considerando que 79% das gestantes entrarão em trabalho de parto espontaneamente 12 horas após a bolsa romper, e 95% 24 horas após, esperar também pode ser uma opção.

  • Qual o risco de induzir ou de esperar o trabalho de parto espontâneo?

Como a principal preocupação é o risco de infecção, é importante que você entenda que induzir o parto não zera esse risco: ele existe tanto induzindo quanto esperando o trabalho de parto. O risco de uma infecção é de 6% entre as pacientes que induziram o parto após a bolsa romper, e de 11% nas que aguardaram o início espontâneo do trabalho de parto. É importante que você entenda que essa diferença existe, e que induzir o parto não te isenta de ter um quadro infeccioso, ao optar por uma conduta ou outra. A indução também reduz o risco de sepse neonatal (infecção no recém-nascido) de 4,1% para 3%. Induzir também reduz o tempo de hospitalização tanto da mãe, quando o recém-nascido.

Aguardar o trabalho de parto espontâneo pode ser uma opção interessante para pacientes que já foram submetidas a cesariana e desejam um parto vaginal, pois para elas a indução do parto com uso de comprimidos (prostaglandinas) é contraindicada, o que pode dificultar o processo. No entanto, a diferença entre as taxas de cesariana entre quem induziu e quem aguardou não apresentou diferença em estudos.

Muitas mulheres se preocupam sobre o bebê entrar em sofrimento devido à ausência de líquido por tempo prolongado, porém os estudos também não relacionaram a ruptura da bolsa ao sofrimento fetal (você pode conferir o estudo que chegou a essas conclusões clicando aqui). A avaliação do bem-estar do bebê deve ser realizada com frequência, até o parto, tanto se for feita indução, quanto se for aguardar o início do trabalho de parto.

  • O que dizem as diretrizes:

A maioria das diretrizes recomendam a indução do trabalho de parto após a ruptura das membranas, caso não se inicie o trabalho de parto espontâneo. A diretriz norte-americana, no entanto, considera aceitável aguardar entre 12 e 24 horas pelo trabalho de parto espontâneo. Esse é o período que foi avaliado pela maioria das pesquisas, sendo que somente alguns aguardaram o trabalho de parto espontâneo por até três ou quatro dias. Assim, tem-se mais conhecimento sobre as consequências de se aguardar até 24 horas, do que por um período maior.

Caso você vá ser atendida em uma maternidade do SUS, ou em hospitais particulares pela equipe do plantão, muito provavelmente irão te oferecer uma indução. Caso você, ciente das informações que expus até agora, decida esperar, é sempre possível conversar com o profissional assistente para aguardar, principalmente caso você já tenha uma cesariana anterior e não deseje ser submetida a outra.

Caso você tenha uma equipe particular, é importante discutir sobre essa possibilidade ainda no pré-natal, para que você já esteja bem esclarecida caso isso ocorra, e sua equipe ciente da sua escolha.

  • A bolsa romper antes do trabalho de parto indica cesariana?

NÃO!!! A cesariana somente será necessária caso seja diagnosticada alguma alteração na vitalidade do bebê, ou ocorra alguma outra complicação (como prolapso de cordão e bolsa rota). Vale ressaltar também que, se diagnosticada infecção intra-amniótica, é necessário interrupção da gestação (que pode acontecer também pela indução do parto, preferencialmente).

Entender o processo, os riscos e o que é possível fazer é fundamental para que você tenha autonomia na sua gestação, e escolha o que é melhor para você e seu bebê, dentro do conhecimento médico, da sua realidade e das suas crenças. Se tiver dúvidas, envie nos comentários! Até a próxima.

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